segunda-feira, 15 de julho de 2013

Alguém ainda visita este blog? Espero que sim, tenho pena daqueles que vão perder esta.

Gente, depois de mais um longo intervalo, cá estou com uma nova postagem. Desta vez, continuo meu Projeto Versão Brasileira com uma série que tem me cativado muito nos últimos tempos - Fairy Tail, baseado no mangá original de Hiro Mashima, o mesmo autor de Rave Master, cuja versõa animada passou aqui no Brasil há alguns anos. Este mangá chegou para arrasar e logo assumiu seu lugar no topo da parada de sucesso com títulos de peso no mundo shounen como One Piece, Naruto e Bleach. É a história de Lucy Heartfilia, uma novata na famosa guilda de magos Fairy Tail, e seu melhor amigo, Natsu Dragneel, o Salamandra, cujas chamas são capazes de queimar até dragões. Deem uma conferida, se puderem: o mangá está sendo comercializado pela JBC aqui no Brasil; os primeiros volumes podem não ser tão interessantes, mas com o tempo a história vai ficando dez! Bom, sem mais delongas, eis minha mais nova criação:

Link para ver no Youtube:


OBS: Não estou conseguindo fazer upload nem pôr o vídeo do Youtube diretamente neste post, então, por enquanto, vai ser no link mesmo. Desculpe o transtorno.
Já consegui fazer upload do vídeo!
Edit: Adicionado link do Youtube. Pq vcs precisam mesmo visitar meus canais mais!

domingo, 31 de março de 2013

Liberdade de Expressão

Continuando com o "filler" até a chegada das próximas edições dos meus projetos atuais...
Aqui estão 3 resenhas críticas de filmes que assisti recentemente. Fiz elas para a aula de Teoria e Crítica Cinematográfica. Espero que gostem!




Uma visão sobre o não-visual: Resenha do filme Drëznica

Muitas vezes, é da simplicidade que surgem as melhores ideias: foi a partir de um mero questionamento casual que a diretora Anna Azevedo (Rio de Jano, Geral) decidiu embarcar na intensa viagem psicológica registrada no curta documental-experimental Drëznica (2008). “Como é que os cegos sonham?”, perguntava-se a cineasta carioca ao decidir rodar esse pequeno ensaio sobre a natureza da imagem.
Como um barco em alto mar, o filme leva o espectador por uma viagem de inúmeras cores, tons, texturas e saturações em meio a arquivos em vídeo da vida familiar de alguns estranhos, enquanto ouvimos vozes anônimas nos contando sobre suas experiências e pensamentos. Todos os depoimentos vêm de cegos reais, embora nenhuma das imagens pertença à memória de qualquer um deles. Brinca-se com as unidades visuais: planos desconexos se justapõem em sequências significativas; tons de sépia envelhecem as cenas; oscilações na câmera desestabilizam o foco óptico; a fotografia insaturada tira a nitidez das imagens; a natureza quimérica, mnemônica, caótica e nebulosa dos sonhos é transportada para a tela. Mas seria o sonho do cego igual ao daqueles que podem enxergar?
Um comentário em particular explicita a questão-mor da obra: “É preciso redefinir o que é imagem.” O que fala o coração daqueles a quem não chega a luz surpreende aqueles de perspectiva estreita: não é bem ver os objetos o que importa para eles, mas sim enxergar aquilo presente no interior de seu sujeito, o recipiente das experiências oníricas. Pois a própria natureza visual dos sonhos é questionável, uma vez que nossos olhos permanecem fechados durante toda a viagem pelo inconsciente. E o que se observa em um sonho nada mais é do que pura ilusão, um gracejo da nossa imaginação dirigido à nossa percepção racional. Mas se o irreal não se constitui em uma sensação visual verdadeira, o que dizer da ficção? O que dizer do cinema, que não é mais que uma sequência de impressões sobre uma tela branca de momentos já deixados para trás, uma mera imitação dos quadros que nossos olhos registram em nossa mente, muitas vezes encenados até? E o que devemos pensar dos nossos próprios olhos, que nos fazem crer captar naturalmente a realidade, quando na verdade não passam de uma versão orgânica da câmera cinematográfica, tirando 24 fotografias por segundo, editando e projetando em nossos crânios como se fossem salas de exibição?
Em um mundo onde o positivismo se vê cada vez mais desacreditado, e a ideia de uma verdade absoluta é substituída por muitas verdades relativas ou mesmo nenhuma verdade real, um discurso como esse se faz mais e mais importante com o passar do tempo. Em busca do conhecimento, o ser humano agora procura desconstruir o que se estabelece em vez de estruturar outros edifícios psíquicos rígidos; não é mais possível organizar o pensamento através da visão no sentido estreitamente biológico. O que os nossos olhos precisam para enxergar não é de fótons, mas sim de vozes. 



A mãe dos dilemas

A dor por quem partiu e o afeto por quem permanece: existe dilema mais terrível para uma mãe do que ter de escolher entre dois filhos? Pietà (2012), do mesmo diretor de Casa Vazia e Primavera. Verão, Outono, Inverno... E Primavera, o sul-coreano Kim Ki-duk, retrata os conflitos pessoais, sociais e geracionais típicos da Nova Coreia através do triste conto de um monstro que perdeu a vida ao ganhar um coração.
O jovem Lee Kang-do é o fruto do abandono, não só de pais negligentes, mas também de uma sociedade excludente. Em seu trabalho como cobrador de dívidas, desconta suas frustrações em seus alvos, a quem aleija por conta do dinheiro do seguro. Morador de um antigo bairro industrial decadente, prestes a ser esmagado pelos arranha-céus da nova metrópole, Kang-do e suas vítimas vivem como as sobras da sociedade capitalista, aqueles que sentem na pele os horrores do lado mais sujo da moeda. “O início e o fim de todas as coisas. Amor, honra, violência, fúria, ódio, inveja, vingança, morte...” assim define o dinheiro a protagonista feminina Min-soo.
Notável também é o conflito vivido por essa personagem, que se apresenta como a mãe que teria abandonado o pequeno Kang-do à própria sorte 30 anos atrás. Seu dilema é uma alegoria ao conflito vivido pela maioria dos povos do Leste Asiático hoje em dia, em que seus antigos valores entram em choque com aqueles trazidos pela modernidade e a globalização: se apegar à velha tradição ou se agarrar às ideias da nova geração? Min-soo deve decidir entre honrar seu verdadeiro filho, morto indiretamente por causa das ações de Kang-do, ou virar a página e continuar com sua nova vida com o filho que ela adotou sem mesmo perceber para si? No final, é a visão de mundo que prefere olhar apenas para o passado que triunfa, mas não sem algum desgosto.
O filme constrói um discurso interessante e de grande relevância para o contexto global atual; entretanto peca no desenvolvimento de alguns elementos da narrativa. A estética é completamente realística, no entanto a mudança de postura em relação à mulher que supostamente o abandonou quando bebê e à vida em geral pela qual passa Kang-do ocorre rápido demais, soando um tanto forçada. E, embora justificado na maior parte do tempo, há algumas instâncias onde a violência e a sexualidade parecem gratuitas, como a cena em que Min-soo masturba o “filho” adormecido; embora esse evento ajude a explicitar mais o nível e a natureza da frustração sexual sentida por Kang-do, essa atitude não condiz com a caracterização da personagem feminina, pois a mesma demonstra posteriormente repulsa a um contato mais íntimo com o jovem, além de essa atitude não servir bem ao propósito de convencê-lo da afeição maternal da mulher; além disso, se essa cena teve algum propósito de desenvolver a sexualidade da personagem, ela falha pela falta de foco que o filme dá a essa questão ao longo do resto de sua duração.
Por conta dos problemas mencionados, o longa-metragem de Kim Ki-duk deixa uma sensação de incompletude, não sabendo resolver satisfatoriamente todas as questões postas em jogo; contudo, com um pouco de tempo para reflexão, é possível sentir alguma apreciação pelas ideias que podem ser depreendidas e discutidas a partir dessa obra. Mergulhar na cabeça de um homem oriundo de um mundo bem distante do nosso requer tempo e sagacidade; no entanto, tal exercício pode servir de aprendizado não só pelas conclusões tiradas da análise em si, mas dos processos realizados pela conduzi-la. É preciso abrir nossa mente para mudar o cenário a nossa volta.


Vozes de tempos conflitantes

Em meio a um mar de ruídos, gritos e estrondos, nada se escuta. Premiado em vários festivais ao redor do mundo e detentor de status cult dentro do segmento cinéfilo de vanguarda, O Som ao Redor (2012), primeiro longa-metragem de ficção do diretor e crítico de cinema pernambucano Kleber Mendonça Filho, responsável  pelos também consagrados Vinil Verde (2004) e Eletrodoméstica (2005), desnuda o cotidiano da nova classe média de sua terra natal, revelando suas aspirações, contradições e fantasmas. Trabalhando com novos temas ao mesmo tempo em que discorre sutilmente sobre antigos problemas, Mendonça faz um retrato cínico da chegada da Era da Informação a uma terra aristocrática e tradicionalista.
A insegurança ronda o bairro onde residem os protagonistas desta história: tanto em relação a sua integridade física, quanto à psicológica. Enquanto lidam com a criminalidade resultante dos problemas históricos e antropológicos de sua cidade, esses moradores da Zona Sul de Recife se indagam silenciosamente sobre a natureza de seu estilo de vida; seria esse sonho concretizado de ascensão social aquilo que eles realmente queriam ou precisavam? A evidente frustração da dona-de-casa Bia, que fuma maconha para esquecer os problemas domésticos e que, apesar de casada, precisa se masturbar para se satisfazer sexualmente, ilustra bem a decepção – consciente ou não – de uma parcela dessa nova classe emergente com sua condição atual, em que o conforto e comodidade não são capazes de preencher o vazio deixado pela precariedade das relações pessoais e a desumanização da paisagem urbana, temas já retratados pelo diretor no mocumentário Recife Frio (2009).
Também figuram as contradições resultantes entre o espaço novo e a velha mentalidade: ainda que surjam novas tecnologias e novos parâmetros de vida doméstica, social e profissional, prevalecem as mesmas crenças e estruturas sociais de séculos atrás – com o dono do condomínio mandando e desmandando na vizinhança tal qual um coronel da Antiga República, agindo como um poder paralelo ao Estado. Superstições de mau agouro, inaptidão em operar aparelhos eletrônicos e capatazes convivem com crianças aprendendo chinês e editando vídeos em laptops, num choque de forças temporais que põem em cheque a natureza modernizadora do processo globalizante. A situação em que se encontram os moradores da vizinhança abastada, contratando uma milícia particular para protegê-los dos “marginais”, nada mais é do que reflexo da informalidade e condescendência enraizadas em nossa cultura.
O passado volta para se vingar quando questões arcaicas como disputas por terras, marginalização das classes populares, colonização aventureira e autoritarismo elitista levam os “fracassados” da sociedade a se revoltar contra seus desafetos mais bem sucedidos, às vezes com perspectiva reformista – como é, em certo sentido, o caso do “segurança particular” Clodoaldo com o fazendeiro e proprietário de imóveis, Francisco, o homem que matou seu pai – às vezes, apenas almejando se integrar ao sistema – tal qual deseja o garoto pobre que arromba as casas do bairro de classe média. O histórico conturbado do Brasil também se faz presente nas atitudes daqueles com mais sorte na vida: o neto do “coronel” faz besteira para aparecer e se sente justificado pela influência que o avô tem nas redondezas. Muda-se o cenário da história, permanecem os mesmos personagens e clichês.
A relevância das temáticas postas em jogo por esse filme, assim como pelo resto da cinematografia – e pelas atitudes – de seu realizador é tanta para discutirmos a realidade do nosso país, seja em Pernambuco, Brasília ou São Paulo, e, por extensão, a do restante do mundo globalizado, que não chega a ser uma surpresa o tamanho da repercussão que ele teve, a despeito do fracasso de público, motivado pela oposição de certos grupos de poder e o compromisso inconsciente do povo com o mesmo. Muito bem-vindo é o advento de tal iniciativa, em um momento em que é forte a discussão sobre o desenvolvimento do país, a descentralização regional e a ascensão das classes C e D, tanto para expor o novo quadro social brasileiro, em seus anseios otimistas, quanto para desconstruí-lo e denunciar as mazelas de uma organização hierárquica que muito muda de forma, mas pouco se altera em conteúdo.


A Trama se desfaz...



Olá, galera! Decidi postar algumas coisas legais que escrevi enquanto não sai nenhuma novidade. Esse aqui é um roteiro que fiz durante para a G2 de Argumento e Roteiro da Faculdade de Cinema. Espero que vocês gostem!

CULPADO 

EXT. CASA DE VITOR – DIA
Uma casa no subúrbio do Rio de Janeiro, tão VELHA que parece que vai cair a qualquer hora, jaz sobre um céu cinzento.
INT. CASA DE VITOR/SALA – DIA
VITOR dorme e ronca alto sentado uma poltrona rasgada, enquanto passa um DESENHO ANIMADO na televisão. É um homem branco de uns sessenta e cinco anos, barba por fazer, cabelos grisalhos desalinhados, óculos rachados e uma barriga enorme, em contraste com o resto de seu corpo magro.

De repente, o som de uma freada brusca quase o faz pular da poltrona.

Ele verifica pela janela o que aconteceu. RUA VAZIA. Um leve suspiro de alívio.
INT. CASA DE VITOR/BANHEIRO – DIA
Vitor lava seu rosto numa pia cuja torneira está quebrada. O reflexo de sua expressão conformada está rachado do lado esquerdo.
INT. CASA DE VITOR/COZINHA – DIA
Sentado à mesa, Vitor SABOREIA a acidez de um limão, resignado.
INT. CASA DE VITOR/SALA – DIA
Vitor assiste a um telejornal matutino. A reportagem é sobre saúde na terceira idade: velhinhas fazem Pilates e um homem de setenta anos, mas corpo de quarenta, corre na esteira. Vitor rosna de tanta raiva.

Prestes a mudar de canal, contudo, ele é surpreendido por um informe urgente sobre uma guerra no Oriente Médio, que chama sua atenção.

Tanques atiram, pessoas fogem como BARATAS, prédios queimam, um caos total. Em dado momento, a câmera foca uma criança morta nos braços da mãe.
Insert: Vitor enxerga a mulher e a criança como se fossem negras, com roupas de brasileiro pobre.
Com o coração quase para fora do peito, Vitor desliga a televisão instantaneamente.
EXT. VIZINHANÇA DE VITOR – DIA
Vitor caminha pela calçada, um pouco mais calmo. Ele avista um campinho onde um grupo de crianças de dez anos joga bola, grita e RI. Um esboço de sorriso toma seus lábios.
Um ATACANTE rouba a bola de um jogador adversário e dribla graciosamente outros dois. Conforme o jogo esquenta, Vitor fica mais alegre. O pequeno craque dá um tiro de CANHÃO em direção ao gol, mas o GOLEIRO defende, e a bola cai no meio da rua.
menino Goleiro
Xi...
MENINO ATACANTE
Vai buscar a bola, pô, foi você quem jogou lá!
E o Julio Cesar mirim vai.  
Enquanto isso, um carro dobra a esquina e entra na rua de Vitor rápido como uma bala.
Quando o menino põe as mãos na bola, ele se vira ao ouvir os amigos gritarem.
Meninos
Sai daí! Sai daí!
O motorista freia, mas o carro da esquina continua a avançar como uma FERA em cima do garoto.
O sorriso radiante de Vitor agora é uma CARETA DE PÂNICO. MATCH CUT TO:
INT. APARTAMENTO DE VITOR/QUARTO DO CASAL – DIA (FLASHBACK)
Um Vitor de trinta e cinco anos, jeito de galã das oito, dorme com uma expressão pacífica. VANDA, uma mulher morena alta e bonita, cara de modelo, da mesma idade que ele, acorda-o com um beijo no rosto.
vanda
Bom dia, meu gerente-assistente preferidooo!!!
Vitor beija Vanda na boca com uma vitalidade que deixaria boquiaberto seu eu sessentão.
Vitor (carinhoso)
Bom dia, amor.
INT. APARTAMENTO DE VITOR/QUARTO DE VINÍCIUS – DIA (FLASHBACK)
Já arrumado, Vitor vai acordar o filho VINÍCIUS, um menino de dez anos, um tanto mirrado, FRÁGIL. Ele dá um beijinho na bochecha do garoto e lhe faz um carinho na cabeça.
VITOR (ANIMADO)
Bom dia, filhão! Se arruma para a gente tomar café!
Vinícius nem abre os olhos, mas sussurra.
vinícius
Oi, pai...
Ainda encasulado no cobertor, ele rola para o outro lado. Vitor o sacode levemente.
VITOR
Mais energia, amigão, senão vai se atrasar para o colégio!
VINÍCIUS
Tá...
Vinícius levanta o tronco, mas permanece com as pernas cobertas.
VITOR
Já vou lá, se arruma!
VINÍCIUS
Ô, pai...
VITOR
Que foi, campeão?
VINÍCIUS
E o cinema?
O sorriso de Vitor se inverte.
vitor
... Filho, eu prometo que desta vez vai rolar. Não vou mais te decepcionar.
EXT. FACHADA DO PRÉDIO DE VITOR – DIA (FLASHBACK)
Vitor sai da garagem do condomínio de luxo onde mora com um carro que provavelmente custou-lhe OS OLHOS DA CARA.
INT. FIRMA DE VITOR/SALA DE REUNIÕES – INÍCIO DE TARDE (FLASHBACK)
Vitor apresenta um projeto de uma grande construção, através de plantas e gráficos, para um grupo de homens engravatados, a maioria gordos brancos com rostos vermelhos de sol, o típico turista americano.
VITOR
Taking all of those points into account, I can't imagine a better place to build your shopping and leisure center than Barra da Tijuca, right here in our wonderful Rio de Janeiro (Levando em consideração todos esses pontos, não vejo lugar melhor para construir seu centro de consumo e lazer do que na Barra da Tijuca, bem aqui no nosso maravilhoso Rio de Janeiro).
MUITOS APLAUSOS. O CHEFE DE VITOR, um homem de uns sessenta anos, cabelos brancos, que parece sempre comer bem, levanta-se de seu assento.
Chefe
Gentlemen, we're glad to see you appreciated our proposal. It'll be an honor to carry out this project along with your company. But now, I'd like to celebrate our deal "do jeitinho brasileiro"... So, let's go! The ladies are waiting for us!(Cavalheiros, ficamos felizes que tenham gostado de nossa proposta. Será uma honra realizar este projeto junto com sua companhia. Mas, agora, eu gostaria de comemorar nosso acordo do jeitinho brasileiro... Então, vamos, que as moças nos esperam)!
Todos riem e os executivos americanos saem pela porta do sala. O chefe fica mais um pouco para dizer algo a Vitor.
CHEFE
Mais uma VITÓRIA, Vitor (risos)! Seria demais seu eu te pedisse para ficar algumas horas no meu lugar, enquanto eu dou uma saidinha com os garotos?
VITOR (animado)
Nenhum problema!
CHEFE
Muito bem... good luck, my boy (risos)!
O chefe dá um soquinho no braço de Vitor sai da sala. Vitor esfrega o braço e sorri com orgulho.
INT. FIRMA DE VITOR/SALA DE VITOR – FINAL DE TARDE (FLASHBACK)
Imerso no trabalho durante horas, Vitor resolve olhar o relógio do pulso. São seis e meia.
VITOR
Putz, o Vinícius!!
Ele pega suas coisas e se lança para fora do escritório.
EXT. RUA – CREPÚSCULO (FLASHBACK)
Preso no meio de um engarrafamento, Vitor grunhe como um LEÃO preso numa jaula pequena. Sua ansiedade é tanta que, ao avistar uma brecha, salta sobre seu alvo e se esgueira como um predador por entre os outros carros até atravessar o sinal.

Vitor dobra uma esquina e avança ferozmente em direção a seu destino, mas, de repente, um MENINO NEGRO surge no meio do caminho. Vitor tenta parar, mas a fúria da besta metálica que comanda é grande demais. A bola que o menino segurava rola sozinha pelo chão. Vitor, com o terror estampado no rosto, dá um grito inaudível. MATCH CUT TO:
EXT. VIZINHANÇA DE VITOR – DIA
Vitor está petrificado. O carro do presente que iria atropelar o pequeno goleiro para a tempo. A criança, aterrorizada, volta ao campinho com a bola nas mãos.

Vitor, no entanto, continua abalado.
EXT. RUA – CREPÚSCULO (FLASHBACK)
Um Vitor mais jovem sai do carro para verificar o menino. SEM PULSO. A bola rola pelo chão e é pintada pelo sangue que se espalha por ele. Vitor rompe-se em lágrimas.
Insert: Vitor enxerga o menino como se fosse seu filho Vinícius.
De repente, uma voz de mulher grita.
voz de mulher
CARLINHOS!!!
Ao ouvir o grito, Vitor pula para dentro do carro e foge como um GATO ASSUSTADO, antes que ela o veja.
INT. APARTAMENTO DE VITOR/COZINHA/CORREDOR – NOITE (FLASHBACK)
Vanda recebe Vitor. Está uma FERA.
vanda
De novo, Vitor? Como é que você fez isso com menino? Qual é a desculpa dessa vez?
Vitor, com os olhos vermelhos e distantes, ignora-a e caminha em direção ao seu quarto.
VANDA
Você não vai me ignorar, vem cá, fala o porquê, Vitor! Por que... VITOR!
Ele se tranca no quarto.
INT. APARTAMENTO DE VITOR/CORREDOR/SALA – MADRUGADA (FLASHBACK)
Vitor sai do esconderijo e encontra Vanda adormecida no sofá.
INT. APARTAMENTO DE VITOR/QUARTO DE VINÍCIUS – MADRUGADA (FLASHBACK)
Vitor abre a porta e observa Vinícius dormir. O menino tem lágrimas secas nos olhos.

Duplamente culpado, Vitor acaricia o rosto do filho, que acorda.
VITOR
Desculpa ter te acordado, filho. Desculpa... ter te decepcionado de novo. Dessa vez eu prometo de verdade que essa vai ser a última...
VINÍCIUS
Pai, não é isso... Eu não estou mais chateado com isso. Mas acontece...
Vinícius abaixa a cabeça e, lentamente, novas lágrimas jorram de seus olhos.
VINÍCIUS
Acontece que meu amigo... Que estudava na mesma sala... o Carlinhos, que jogava bola comigo, filho da dona Carla lá da limpeza... atropelaram ele hoje... ELE NÃO...
Vinícius tenta enxugar as lágrimas, sem poder prosseguir. A tensão toma conta do corpo e do rosto de Vitor. MATCH CUT TO:
EXT. VIZINHANÇA DE VITOR/INT. BAR – DIA
Vitor, com cara de ZUMBI, anda como um até um bar, senta-se encostado no balcão e pede.
VITOR (vazio)
Duas doses de cachaça
BALCONISTA
É pra já, seu Vitor.
O BALCONISTA põe um copo cheio sobre o balcão. MATCH CUT TO:
INT. CAPELA – DIA (FLASHBACK)
Um cálice de vinho sobre um altar, onde há uma foto de Carlinhos SORRIDENTE.

Enquanto o padre reza, Vitor não consegue tirar os olhos de uma MULHER NEGRA de uns trinta anos que tenta, em vão, conter o choro. Vinícius esclarece.
Vinícius
É a Dona Carla, mãe do Carlinhos.
Vitor agora nem pisca mais diante da imagem da mãe de coração partido.
EXT. CAPELA – DIA (FLASHBACK)
Prestes a passar pelo portão, Vitor e Vinícius se detêm ao ouvir o choro forte da mãe de Carlinhos. Ela passa mal e é socorrida por outros convidados. Repete uma mesma frase sem parar.
Carla
Por que não ajudaram ele?!
Atormentado pela culpa, Vitor tenta se aproximar, mas ao chegar perto dela, perde a obstinação e hesita, enquanto OUTRA MULHER passa com Carla apoiada no ombro.
INT. APARTAMENTO DE VITOR/QUARTO DO CASAL – NOITE (FLASHBACK)
Enquanto Vanda toma banho, Vitor, permanece imóvel, mas não consegue ficar quieto. Sua expressão mistura confusão, nervosismo e dor. Finalmente, ele inspira profundamente e, com lágrimas nos olhos, guarda documentos, cartões e dinheiro numa mala.
INT. APARTAMENTO DE VITOR/SALA – NOITE (FLASHBACK)
Enquanto Vinícius assiste à televisão, Vitor caminha até a porta e tenta abri-la discretamente, porém...
vinícius
Pai, aonde você vai?
Vitor volta-se para o filho, que exprimia uma profunda tristeza nos olhos, como se soubesse o que o pai estava prestes a fazer.
vitor
Tenho negócios a resolver.
vinícius
Quando você volta?
Vitor fica perplexo com a pergunta do filho.
EXT. RUA – CREPÚSCULO (FLASHBACK)
Carlinhos jaz ensanguentado e sem vida no chão. Seu rosto, no entanto, parece mais triste do que vazio, como geralmente fica o rosto de um morto.
INT. APARTAMENTO DE VITOR/SALA – NOITE (FLASHBACK)
Vitor simplesmente vira o rosto cheio de tristeza e sai pela porta da sala. Ele a fecha lentamente enquanto observa o filho pela última vez.
INT. BAR – DIA
Vitor luta para não desmaiar de tão bêbado sobre o balcão. Acaba derrotado pelo álcool.
O choque da queda derruba seu copo no chão. O balconista fica irritado.
balconista
Putz, seu Vitor, o senhor já é da casa há tempos, mas assim não dá! Tem que parar de dormir no meu balcão! O senhor prometeu!
Vitor arregala os olhos como se algo tivesse lhe cravado fundo.
vitor (v.o. 35 anos)
Eu prometo. Não vou mais te decepcionar.
Decidido, Vitor deixa o bar cambaleante.
INT. ANTIGA ESCOLA DE VINÍCIUS/SECRETARIA – INÍCIO DE TARDE
Uma FUNCIONÁRIA, sentada atrás de uma mesa e de frente para Vitor, escreve num papelzinho.
funcionária
O senhor vai encontrar a dona Carla nesse endereço aqui, ok?
VITOR
Muito obrigado, senhora.
EXT. COMUNIDADE DE CARLA/LADEIRA/Casa de Carla - FINAL DE TARDE
Com muito esforço, Vitor sobe a ladeira enquanto uma MULHER NEGRA acompanhada de um GAROTINHO o fita como a uma BESTA. Ele desvia o olhar dela, mas depara-se com os olhos hostis dos demais moradores. São todos negros, dos dois sexos, com idades que variam em duas faixas: seis e doze e trinta e quarenta anos. Vitor foge do "corredor da morte" até encontrar a casa de Carla.
Vitor aproxima o punho da porta velha e cheia de fendas, quase macabra, mas não ousa tocá-la. Ele treme, enquanto uma gota de suor escorre de sua testa por entre seus olhos.
INT. APARTAMENTO DE VITOR - NOITE (FLASHBACK)
Os olhos de Vitor miram a cara triste de seu filho enquanto fecha a porta da sala por fora.
EXT. COMUNIDADE DE CARLA/CASA DE CARLA - FINAL DE TARDE
Vitor, decidido, quase faz um estrondo na porta. Ele ouve alguém dentro da casa levantar e caminhar em direção à porta. Mas sua expressão volta a ser de insegurança.
Uma mulher negra idosa abre a porta. NINGUÉM DO LADO DE FORA.
INT. CASA DE VITOR/SALA – NOITE
Vitor liga a televisão e senta-se na poltrona.  É um programa de humor. As risadas do claque, porém, deixam Vitor ASSOMBRADO.